segunda-feira, 11 de outubro de 2010

Debate vira embate entre canditados na Bandeirantes

Mark Ribeiro
Do Diário do Grande ABC

As previsões erraram. Quem apostou em debate sem sal entre os candidatos à Presidência se surpreendeu com o literal embate promovido ontem pela TV Bandeirantes. Aborto, Erenice, Deus, privatizações. Todos os temas polêmicos foram abordados. Cutucando as feridas, José Serra (PSDB) saiu-se melhor, deixou Dilma Rousseff (PT) de saia-justa, com a petista traída pelo raciocínio em diversos momentos. Mas ele também não respondeu diretamente aos assuntos.

Logo de cara Dilma deixou de lado o conservadorismo adotado no primeiro turno e tocou em feridas tucanas. Não esperou ser provocada pelo adversário para falar sobre escândalos e indagou Serra se era correto seu candidato a vice, Índio da Costa (DEM), procurar a todo momento atingi-la de forma "caluniosa." Era tudo o que Serra queria.

"Creio que vocês (petistas) confundem reportagens com coisas orquestradas. Sobre os escândalos de corrupção na Casa Civil dizem que é coisa da imprensa; sobre o aborto, você, Dilma, disse ser a favor da liberação e agora diz o contrário. Não pode ter duas caras", disparou o tucano, que ainda ligou a candidata a ex-presidentes em baixa. "Ela tem dois ex-presidentes, o (Fernando) Collor e o (José) Sarney. Os meus são o Itamar (Franco) e o Fernando Henrique."

Dilma rebateu e disse para o adversário tomar cuidado com suas "mil caras". "O que não pode é a sua mulher (Mônica Serra) dizer que sou a favor da morte de criancinhas." E o acusou de regulamentar o aborto no SUS (Sistema Único de Saúde). "A lei do aborto é de 1940 e eu nasci em 1942. Nem espiritualmente poderia ter sido o autor da lei. O que fiz como ministro foi criar norma técnica que balizasse casos de aborto no SUS, como os decorrentes de estupro e quando há risco à vida da mãe", salientou o tucano.

"Eu nunca fui a favor do aborto. Você foi e agora tenta se vitimizar. Com relação a Deus, a mesma coisa, e ao escândalos na Casa Civil também. Uma pessoa ligada a você durante sete anos (Erenice) organizou esquema monumental de corrupção e você diz que não tem nada a ver", reforçou Serra.

Dilma, por sua vez, insistiu em comentar as privatizações, o calcanhar de Aquiles do governo FHC e do PSDB. E atribuiu ao adversário as privatizações da Vale do Rio Doce e da Light, além de sugerir que Serra quis vender a Nossa Caixa à iniciativa privada. Serra defendeu-se. Disse que a privatização do sistema de telefonia salvou o Brasil de se tornar o "País dos orelhões" (pelo então alto custa das linhas telefônicas) e que a venda da Nossa Caixa para o governo federal foi um bom negócio, cujos recursos foram revertidos em metrô 5e estradas vicinais.

A petista, então, recorreu aos programas bem-sucedidos do governo Lula e questionou o tucano sobre quais as garantias que ele dá para manter o Minha Casa, Minha Vida. "O Serra assinou no cartório que não seria candidato ao governo de São Paulo e foi. E acabou com programas que o (Geraldo) Alckmin implantou, como a escola de tempo integral. Que garantias temos de que vai continuar os do Lula?"

Posição de Marina Silva domina bastidores

O posicionamento da terceira colocada na corrida presidencial, Marina Silva (PV), no segundo turno e os rumos da campanha nas últimas três semanas de divulgação das chapas dominaram os bastidores do debate da Band. Porém, nem petistas nem tucanos arriscaram cravar que terão o apoio da verde na reta final da disputa pelo Palácio do Planalto.

O governador eleito do Rio Grande do Sul, Tarso Genro (PT), disse que telefonou para Marina na sexta-feira, ocasião em que tiveram "longa conversa". Mas o ex-ministro da Justiça não divulgou a conclusão do diálogo. "Marina é produto da esquerda democrática. Tenho grande afinidade com ela, trabalhamos juntos no governo durante sete anos", limitou-se a dizer.

Já o governador eleito de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), foi ao debate de gravata verde, mas evitou afirmações de aproximação com a ex-presidenciável do PV. "Claro que queremos o apoio de Marina, mas essa é uma decisão que cabe a eles", ressaltou o tucano, que também conversou com a ex-ministra do Meio Ambiente logo após o primeiro turno. "Foi apenas para parabenizá-la. Ela contribuiu na colocação de propostas, engrandeceu a disputa."

O deputado estadual Rui Falcão (PT) criticou a estratégia dos adversários, que segundo ele "baixaram o nível da campanha" nas últimas semanas, ao colocar Dilma Rousseff como sendo a favor do aborto. "Ao expor assuntos morais e religiosos, o Serra fugiu da discussão de assuntos mais relevantes como os econômico e social", analisou o parlamentar, ao afastar qualquer desespero dos petistas por não vencerem no primeiro turno. "As duas vezes com o presidente Lula foram assim.

Para o senador eleito Aloysio Nunes (PSDB), é importante tanto a atração dos eleitores de Marina Silva como também do apoio formal da verde. "As duas coisas são importantes, mas ninguém é dono do voto de ninguém. Mas, o mais importante, é expor as diferenças entre as duas atuais candidaturas, sobre aborto, sobre controle da mídia e outros assuntos."

Para o líder do PT na Câmara, Cândido Vacarezza, Marina "tem mais a ver com Dilma do que com Serra". "Creio que o debate de propostas tende a ser mais importante do que o próprio apoio dela. Temos de continuar colocando ideias para o futuro do Brasil. (Beto Silva)

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